Entre os dias 8 e 16 de março, aconteceu o South by Southwest — SXSW 2024. Esse é considerado por muitos o maior evento de tecnologia e inovação do mundo, capaz de reunir mais de 345 mil participantes de uma centena de países.

Anualmente, uma maré verde e amarela invade as ruas de Austin, nos Estados Unidos, para assistir às conferências, festivais, shows e outras atividades do SXSW. Como destaca Hugh Forrest, copresidente e diretor de programação do evento, o Brasil tem a maior presença de participantes de fora dos EUA, tamanha a importância dada por aqui.

Quem encarou a viagem encontrou conteúdo de sobra. A programação do SXSW 2024 apresentou nada menos que 24 trilhas de conhecimento, incluindo inteligência artificial, indústria tecnológica, publicidade, mídia, design, startups, entre outros temas esperados em um evento do gênero. Mas o South by Southwest também é um espaço para debater mudanças climáticas, impacto social, cultura, ambiente de trabalho e outros temas urgentes em nossa sociedade.

Perdeu a cobertura das apresentações? O Negócios SC aponta os destaques para você. Boa leitura!

Três destaques do SXSW 2024

1. O superciclo tecnológico

Um dos momentos mais aguardados do SXSW 2024 foi a divulgação do “Tech Trends Report”, o relatório de tendências tecnológicas do Future Today Institute (FTI).

A presença de Amy Webb, futurista e CEO do FTI, nos palcos do South by Southwest já é uma marca do evento. Neste ano, ela trouxe dois conceitos que vão dar muito o que falar: o de superciclo tecnológico e o da Geração T.

O conceito de superciclo tecnológico é emprestado da economia, em que um superciclo refere-se a um período de crescente demanda, elevando consequentemente os preços. Para Webb, entramos em um movimento similar em relação à tecnologia. Ela afirma que esta onda de inovação é tão potente que pode remodelar toda a nossa existência.

Três macrotendências em especial estão impulsionando esse superciclo tecnológico: a inteligência artificial, a biotecnologia e o ecossistema de dispositivos vestíveis interconectados. 

Outro conceito importante é o da Geração T — Geração da Transição — ou GenT, no inglês. Todos nós fazemos parte dessa transição tecnológica, humana e social.

Como seremos depois? É difícil prever. A única certeza, até mesmo para os futuristas, é a de que nossa sociedade será bastante diferente do que estamos acostumados hoje. Tanto que diversas palestras do SXSW 2024 procuraram lidar, cada qual em sua área específica, com os desafios dessa transição.

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Amy Webb apresentou as tendências de tecnologia de 2024. (Stephen Olke / Divulgação)

2) Um debate mais profundo sobre inteligência artificial

Entramos em uma fase mais realista do debate sobre as tecnologias emergentes. Esse já havia sido o tom da NRF 2024: Retail’s Big Show e as falas do SXSW deste ano seguiram nessa direção.

É muito bem-vindo o aprofundamento da discussão se pretendemos fazer desta uma era de cocriação e convivência harmoniosa com as tecnologias. Acima de tudo, se estamos criando ferramentas para melhorar a experiência humana, devemos questionar os rumos que inovações como a inteligência artificial estão tomando.

A IA, como era de se esperar, fez parte de muitas palestras. Ela esteve associada ao aumento da produtividade no ambiente de trabalho, ao estímulo à inovação e à abertura de uma nova fronteira na saúde.

Mas o SXSW também trouxe importantes questionamentos sobre o uso da inteligência artificial. Por exemplo, o painel “AI and the Future of Loneliness” (IA e o Futuro da Solidão) ousou indagar se a tecnologia não nos torna mais solitários, em vez de impulsionar novas conexões.

Em outra conversa, um dos vice-presidentes da OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT, não soube responder se os criativos serão recompensados na era da IA. Fica a dúvida no ar.

Já a palestra da Dra. Joy Buolamwini — uma das mais esperadas do SXSW 2024 — escancarou os desafios éticos e sociais da inteligência artificial. Por exemplo, a especialista fez um alerta sobre os vieses por trás de sistemas de reconhecimento facial com IA.

Ou seja, o debate sobre a tecnologia deixa de ser utópico e ganha outros contornos. Agora o que importa são casos reais, com consequências reais e que devem ser encaradas por pessoas reais.

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3) A humanidade deve vir à frente

Por outro lado, não existe inovação sem uma cultura inovadora e quem faz isso são as pessoas.

Somente teremos êxito como Geração da Transição se colocarmos a humanidade como prioridade e aprendermos a resolver as questões humanas ao lado das tecnológicas.

É por isso que o SXSW 2024 deu destaque ao desenvolvimento de soft skills como liderança e resolução de conflitos. A palestra de Amy Gallo, especialista em relações de trabalho, apontou que resolver problemas nas relações pessoais e setoriais no ambiente corporativo é fundamental para termos empresas mais eficientes.

Por sua vez, empresas eficientes conseguem dedicar mais tempo ao aprendizado contínuo, um processo crucial para o desenvolvimento de uma cultura de inovação.

Então, os negócios que quiserem ser mais inovadores devem investir igualmente no lado humano. As tecnologias são ferramentas para o desenvolvimento, mas as peças centrais de toda organização continuam sendo as pessoas.

Veja mais relatórios de comportamento e tendências na página de pesquisas do Negócios SC.

* Foto de capa por Melissa Bordeau.